Lone Survivor – Sobreviver é só o começo

friendsforeverO outro lado da moeda chamada “acidentes fatais”.

Yaho.

Hoje trago pra vocês uma review de um jogo, melhor dizendo, uma pérola magnífica da interpretação do subconsciente humano, que encontrei na PSN+ mas que você pode achar nos piratebays da vida. Pra vocês terem uma ideia do quanto o jogo é bom: eu tenho muito cagaço com jogos de terror ou qualquer coisa que provoque o mínimo espanto. Mas esse eu joguei. Encolhendo de medo, abraçada com todos os meus bichos de pelúcia, mas joguei.

Vou tentar manter a maior parte spoiler free pra que desfrutem da experiência tão bem quanto eu (mas algumas partes REALMENTE vão precisar). Sendo assim, apresento pra vocês Lone Survivor.

“Sinopse”, ou quase isso

LoneSurvivorGame

Lone Survivor conta a história de Você. Sim, Você não tem nome – mas isso não importa, porque o mundo está em ruínas e aparentemente Você é o único sobrevivente de uma epidemia que alastrou-se pelo mundo. Sua fortaleza é o apartamento onde vive, e sua armadura é uma máscara. O prédio em que fica o apartamento está infestado de criaturas que nada mais são que um amontoado de pele em forma humana, mas que no momento em que percebem sua presença, começam a lhe caçar incansavelmente. Em meio a busca por outros humanos, comida e respostas, sua agora solitária vida é rodeada de alucinações e sonhos confusos.

Gameplay e tecnicidades

LoneSurvivor06-copy

 

O jogo, criado independemente por Jasper Byrne em 2012 para PC e com sua versão Director’s Cut lançada em 2013 para PS3 e PSVITA, é um survival horror com ênfase no “survival”. Os recursos são limitados, tais como eram os antigos Resident Evil. Comida, pílulas, munições e pilhas para a lanterna; tudo foi colocado no jogo em porções limitadas, de maneira que você deve progredir pelos objetivos dispostos no mapa sem perder muito tempo indo e voltando – a cada tentativa falha, mais recursos são desperdiçados e mais complicada se torna a sobrevivência e o avanço, considerando que Você deve avançar para encontrar mais comida.

Atualmente, estamos de frente com inúmeros jogos que se proclamam de “sobrevivência” mas incluem poucos mecanismos que realmente colocam ênfase nesse aspecto, facilitando a jornada e tirando o real perigo, ao ter um maior enfoque nos seus gráficos e monstros nojentos. Lone Survivor não é desses. Como se pode ver, os gráficos em pixel art não apresentam grandes detalhes e os monstros em si não são tão aterrorizantes quanto uma bunda falante que te persegue em Catherine.

Entre esses mecanismos e, como gosto de também chamar: “elementos criativos e óbvios que as grandes indústrias ignoram”, transferem o medo que você tem dos monstros e depositam no desespero em sobreviver. Porque, convenhamos: se ocorresse um Apocalipse Zumbi, você até que poderia se esconder por anos. Mas vamos analisar isso mais racionalmente: o mundo está em completo caos. Os poucos sobreviventes estão preocupados em fugir dos comedores de cérebro. Quem vai produzir comida? Medicamentos? Claro, você pode me dizer que tem muita comida no mundo. Com certeza. Mas essa muita comida está espalhada pelos 4 continentes e eventualmente vai estragar. A verdadeira ameaça em situações apocalípticas assim não é realmente os monstros que as protagonizam, e sim a crise alimentícia e de suprimentos no geral que a humanidade iria enfrentar.

Com a crise de suprimentos, vem a loucura. Os pré-adolescentes, adolescentes e adultos com mente de criança no sentido ruim da coisa, anseiam por uma situação em que possam pegar uma shotgun e sair dando headshot. Particularmente, a primeira coisa que me vem a mente é “como diabos eu vou ficar sã”. Sou daquelas que, quando sobe uma escada, sobe correndo porque sempre tenho a impressão de que algo me persegue quando subo escada – válido também pra quando você apaga a luz da cozinha, banheiro, etc. Se eu tivesse que conviver com o pensamento constante de que algo está me caçando e vai me comer sem pensar duas vezes (e não é um negão), que provavelmente todos que eu conheço estão mortos e que não há perspectiva de salvação além de fugir… Meu amigo, eu ia surtar no primeiro dia.

Sendo assim, após essa enrolação e nada sobre o gameplay, bora falar do dito cujo. Primeiro, Lone Survivor não tem uma HUD, ou seja, aquelas barrinhas de HP/MP/Sanidade, indicando que você precisa tomar uma poçãozinha de hp e tudo mais. Isso é algo que eu sempre acho um toque mágico em jogos e que cada vez mais vem sendo usado: afinal, nós não temos uma barra em cima da cabeça indicando que você tá doente, com febre, ou coisa e tal. O aspecto de imersão é muito mais eficaz desse modo.

Mencionei sanidade, porque esse é um dos aspectos principais do jogo. Seu problema não é manter o HP alto, e sim sua sanidade. Como também mencionei, sua vida de sobrevivente é recheada de alucinações. A maneira criativa do jogo de lhe informar o quão são Você ainda está é através dos espelhos que também funcionam “magicamente” como teleporte: ao se olhar, Você faz uma avaliação rápida de como está aparentando, indicando um estado bom ou negligente da sanidade. Para recuperar a sanidade, Você precisa dormir.

Nessa falta de HUD, veja só, a maneira como Você sabe que está com fome ou cansado é através de falas consigo mesmo: “Estou ficando com fome.” “Um pouco de comida seria ótimo agora.” “Ficando cansado” – entre outras reflexões que o solitário sobrevivente faz, o jogador é indicado do que está precisando, sem ter um gritante aviso na tela de que precisa comer. Simples, sexy e suave.

Lone-Survivor-e1363220859270

Claro que, em um jogo onde você precisa seguir as áreas marcadas no mapa, que eventualmente acha no andar do prédio, e sem perder tempo e gastar comida, munição ou pilhas – em muitas áreas do jogo a iluminação é necessária para que possa investigar e encontrar objetos -, voltar ao apartamento para dormir – Você não fica confortável em dormir em outro lugar sem ser sua cama – é uma opção muito onerosa. Para isso, junto com os outros suprimentos, são encontradas pílulas: verdes, azuis e vermelhas com suaves indicações do que cada uma faz. Entre essas, umas podem suprimir seu sono para que possa avançar – claro, em detrimento da sanidade. Mas são escolhas de como pretende enfrentar o caos.

Todos esses detalhes fazem você imergir muito profundamemnte no papel de sobrevivente – um papel recheado de escolhas. Como Você deve avançar? Com cautela, evitando os monstros e se escondendo… Ou aniquilando todos os que encontra no caminho, usando a munição que recebe das pílulas azuis? Evitando dormir, usando pílulas vermelhas para ficar destemido… Recorrer à carne podre em vez de perder tempo procurando comida boa. Como Você quer sobreviver?

Uma história delusional (Otorimonog-)

lsint1

Possivelmente alguns spoilers. Se quer aproveitar na íntegra, pule pra conclusão. Se tem cagaço de mais pra jogar, pode ir lendo.

Okay, okay. Falei de um bocado de coisa mas não falei quase nada sobre a história. Primeiro, uma das coisas que eu mais adoro em jogos: múltiplos finais. Tudo depende de, como eu disse, as escolhas implícitas que o jogador toma ao longo do jogo. Não são escolhas óbvias, decisões durante conversas à lá visual novel, mas é, como repito mais uma vez, a forma como escolhe sobreviver

Entretanto, uma coisa sempre fica coçando seu raciocínio: quem é Você? 

Não só isso, mas também todo o contexto apocalíptico que em que está… Geralmente uma longa introdução ou algum cientista ao longo do jogo explica em detalhes completos o que diabos aconteceu no mundo, a empresa que fez isso, o vilão, etc etc. Mas nesse jogo, bom, não tem vilão. Não tem cientista.

Dessa forma, tem dois caminho que a gente pode tomar pra entender o jogo. Vão ver muitas interpretações pela internet a fora e a maioria se resume nesses dois já que acredito que seja o que eu e boa parte do pessoal que jogou captou.

Primeiro, você é só um sobrevivente de um apocalipse e que tá ficando louco.

Claro, essa é a hipótese mais óbvia. Na situação tão solitária que está, a falta de interação social deriva a consciência pra loucura. Só pensar nos hikikomoris, pessoas que passam anos isoladas dentro de suas casas, com pouco ou nenhum contato com o mundo exterior e as pessoas dele. Somado a isso tem o medo dos monstros, o medo de morrer de fome, de doença. Durante as explorações, situações bizarras como encontrar seus amigos em uma festa, como se nada estivesse acontecendo e sua inconformidade com a atitude deles mostra um lado que rejeita a situação atual, em contraste com aquele mergulhado nela. “Por que vocês estão festejando em um momento como esse?!”… Tomando a outra viés: “Por que não estou festejando? Aproveitando? Vivendo?”. O homem com a caixa na cabeça, uma esperança de heroísmo em um mundo perdido. A garota, os tempos de paz perdidos pra sempre…

A primeira hipótese, apesar de óbvia, não esclarece todas as coisas. Admitir que as alucinações são apenas retratos da insanidade é um pouco cômodo. Por isso, uma segunda hipótese que, após muita utilização -lícita- de drogas tais como chocolate, açaí, sorvete, sorvete, açaí, além de algumas pesquisas pela internet a lá “que diabos foi The End of Evangelion pessoal”, cheguei na segunda conclusão e que também tá muito pela internet a fora.

O mundo não está acabando. O apocalipse está na sua mente.

O título do jogo é bem direto: “Sobrevivente Solitário”. Mas não tem nenhuma especificação do que ele sobreviveu, ou está sobrevivendo.

Ou seja… No decorrer do jogo, na medida em que você vai adentrando na mente de – bom, Você, as possibilidades vão aparecendo e as descobertas são feitas pelo jogador e por aquele que tenta fugir de uma realidade dolorosa.

Argh, é muto difícil fazer isso sem soltar spoiler. Por isso, deixo por aqui pra você jogar, surtar e agarrar a pontinha do lençol junto comigo! (epa, isso soou meio sex-)

Conclusão

No meio de um bando de jogos indies, alguns filmes que se disfarçam de jogos e outros que simplesmente estampam a cara da Ellen Page na capa, Lone Survivor se destaca trazendo um diferencial tanto na maneira de narrar quanto na história em si, em conjunto com um gameplay criativo e único. Consegue trazer as dificuldades de sobreviver realmente com recursos escassos, ao mesmo tempo que não se torna algo tão impossível que a vontade de jogar suma.

Dessa forma, recomendo pra vocês do PC MASTER RACE, sonystas ou o que quer que sejam, esse jogo inovativo, com um equílibrio de insanidade magnífico.

Comentem lá por baixo e até a próxima!

4

4 thoughts on “Lone Survivor – Sobreviver é só o começo

  1. Survival horror 2d!
    Sempre me perguntei como seria um trillher psicológico como Silent Hill, misturado ao 2d no melhor estilo Metroidvania. Esta parece a resposta. Obrigado.

  2. Jogo no mínimo interessante, está no topo da minha lista de jogos pra comprar na psn quando pingar algum dinheiro na minha carteira, obrigado pela recomendação. Realmente, saudades de quando os jogos de sobrevivencia eram realmente de sobrevivencia, nos resident evil’s de hoje em dia vc mata pinhatas recheadas de munição, nem tem graça.

  3. Ótima review, Marcela, obrigada pela recomendação. Também sou daquelas que se cagam jogando games de terror, mas esse despertou a minha curiosidade, só resta juntar coragem pra baixar, e depois, tentar conseguir dormir com a porta bloqueada e com o abajur ligado😅
    P.s:morri de rir na parte em q vc escreveu “[…]os monstros em si não são tão assustadores quanto uma bunda falante que te persegue em Catherine.”😂

Leave a reply to Flávio Cancel reply